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EM TEMPOS DE RESISTÊNCIA, 10ª CINEBH PROMOVEU DIÁLOGOS ENTRE MOVIMENTOS SOCIAIS E AS DIVERSAS EXPRESSÕES DO AUDIOVISUAL NO BRASIL E NO MUNDO
Publicada em: 30.10.2016

 Mostra em 2016 incorporou produção de grupos militantes, incentivou novos projetos de coprodução através do Brasil CineMundi e se abriu para ouvir propostas do governo mineiro para o setor, além de exibir dezenas de filmes, refletir o cinema feito em Portugal e promover pré-estreias nacionais

 

No ano em que completou uma década, a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte se consolidou não apenas como espaço de exibição, discussão, compartilhamento de experiência e canal de negócios para coproduções audiovisuais, mas também se integrou às recentes lutas culturais e sociais por uma cidade mais justa e harmônica. A exibição de 69 filmes (37 longas, 03 média e 29 curtas) em 55 sessões, ocupando cinco espaços da cidade (Cine Humberto Mauro, Cine 104, MIS Cine Santa Tereza, Sesc Palladium e Teatro Sesiminas), levou a mostra a diferentes públicos e olhares.

O recorte da Mostra A Cidade em Movimento, grande novidade em 2016, mesclou cinema e militância com o objetivo de construir pontes com os grupos de resistência locais e suas experiências no audiovisual. A mostra foi composta de 12 filmes (2 longas, 2 médias e 8 curtas), três rodas de conversa que questionaram arbitrariedades e situações-limite vividas pela sociedade na luta por espaço e ocupação na paisagem urbana e uma performance artística realizada na abertura, no dia 20 de outubro, no Sesiminas.

Nas rodas de conversa, lideranças e integrantes de diversos movimentos se juntaram para debater rumos e ações de luta na cidade. Uma das participates foi Áurea Carolina, cientista política e vereadora eleita mais votada em Belo Horizonte nas eleições de 2016. “O fato de minha votação ter sido expressiva é um sinal de que há um campo possível e potente que conseguimos ativar para fazer mediação entre as lutas e o nosso sistema democrático”, disse ela. “Nossa intenção é que as lutas sejam o tempo inteiro o nosso meio de ação e que nossa incidência política seja feita por essas lutas e também junto com elas”.

No campo da estética, a temática da CineBH dialogou diretamente com a Cidade em Movimento ao propor o Cinema da Resistência como eixo de discussões deste ano. Partindo da noção de que “o tempo é de profunda transformação no regime da imagem”, conforme escreveram os curadores, Pedro Butcher e Francis Vogner, a programação de filmes seguiu o ideário de um cinema que resiste diante das pressões tecnológicas, comerciais e de valorização do lucro que imperam hoje. “O termo 'resistência' se refere, aqui, a seu aspecto francamente político contra a concepção da arte-mercadoria”, afirmou Butcher.

Os curadores escolheram, então, o cinema realizado em Portugal como enfoque da noção de resistência. Foram exibidos diversos filmes do país europeu, desde pré-estreias nacionais (casos de Correspondências, de Rita Azevedo Gomes), à retrospectiva de João César Monteiro, com 8 longas-metragens do cultudado cineasta falecido em 2003. “Portugal um país que não possui um mercado consolidado e, mesmo assim, segue produzindo uma das cinematografias mais expressivas no mundo. O capital mais importante para os realizadores de lá é o tempo, e não o capital. Isso faz toda a diferença”, disse Francis Vogner, durante debate.

Também pelo viés da resistência, a Mostra Contemporânea e a Mostra Curtas valorizaram filmes que retratassem personagens ou situações no limite de suas vivências, ora superando as dificuldades, ora sucumbindo – mas nunca desistindo. Filmes como Viejo Calavera, sobre a mineração na Bolívia, Ta'ang, que acompanha um grupo de imigrantes birmaneses na fronteira com a China, ou Elon não Acredita na Morte, de Ricardo Alves Jr, mostraram aos espectadores formas variadas e inventivas de retratar situações de calamidade às vezes tão banalizadas pelo noticiário da mídia tradicional.

Em certa medida, até as escolhas do crítico italiano Adriano Aprá – presença ilustre este ano na seção Diálogos Históricos – se pautaram pela resistência. Ele escolheu três filmes para exibir e debater com o público, todos característicos de um olhar complexificado para o cinema, a produção e as relações dos personagens com suas intrigas: Crisântemos Tardios (Japão, 1939), Gertrud (Dinamarca, 1964) e O Eclipse (Itália, 1962). O público pôde ouvir Aprá discorrer sobre cada um destes títulos, ressaltando a importância histórica e o quanto os filmes ainda podem nos servir no cenário contemporâneo do cinema.

ENCONTROS

A CineBH foi espaço para a realização do 7º Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting, o grande evento de mercado do cinema brasileiro. Contando com 20 convidados internacionais de 12 países, o programa recebeu 19 projetos para serem discutidos e avaliados. Organizados em três categorias (CineMundi, DocBrasil Meeting e Foco Minas) e vindos de sete Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Ceará, Bahia e Paraná), todos estiveram nos meetings one-to-one com os 34 produtores participantes.

“A identidade cinematográfica brasileira é o motor para novas ideias”, escreveram no catálogo os colaboradores do Brasil CineMundi – o trio Gudula Meinzolt (Suíça), Paulo de Carvalho (Alemanha) e Séverine Roinssard (França). Um dos grandes atrativos do programa é a parceria com laboratórios de desenvolvimento de roteiros de importantes festivais, que inclusive premiaram alguns dos projetos inscritos.

O júri composto por Arne Kohrweyer (Alemanha), Olga Lamontanara (Itália) e Emmanuelle Déprats (França) escolheu A Sombra do Cão (SP), direção de Carla Saavedra Brychcy e produção de Priscila Portella, como o melhor projeto do ano, com prêmio de parceiros e presença garantida no Ventana Sur. Para o Cinélatino, Rencontres de Toulouse, foi escolhido A Mãe (direção de Cristiano Burlan e produção de Henrique Zanoni); para o TorinoFilmLab, Natan, de Ticiana Augusto Lima (produção) e Luciana Vieira e Victor Costa Lopes (direção); e com vaga para o DocMontevideo, o produtor André Hallak, do projeto Arquivos de Lava, de Felipe Chimicatti e Pedro Carvalho.

Durante o Seminário Brasil CineMundi, os participantes puderam ouvir relatos de experiências e casos bem-sucedidos de filmes que nasceram de conversas e negociações para coproduções, muitos deles durante edições anteriores da CineBH. Foi o exemplo de Antes o Tempo não Acabava, filme do Amazonas com direção de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, cujo roteiro esteve nas rodadas de diálogo em 2012. O filme reuniu produtores do Brasil, Suíça e Alemanha numa mesa em torno de sua realização.

“Como produtora brasileira, posso dizer que o momento de debate com o coprodutor internacional é a primeira impressão de uma pessoa do exterior sobre o seu projeto”, destacou Ana Alice de Morais, da 3 Moinhos. “O estímulo que recebemos durante o projeto te dá mais autoconfiança. Num processo de criação de um filme, você recebe muitos 'nãos' e poucos 'sim', e quando surge um 'sim', então é uma porta que não se fechou e é muito importante para a continuação do trabalho”. Antes o Tempo não Acabava teve estreia mundial no Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, e desde então viaja por diversos eventos ao redor do mundo.

A vivência da coprodução e as possibilidades de diálogo, networking, trocas, compartilhamentos e encontros é o principal objetivo do Brasil CineMundi. Os produtores compreendem este momento como uma imersão de quatro dias entre mesas, bate-papos, palestras, confraternização e muitas chances de encontrar iniciativas que gerem filmes de relevância internacional. A França, como o país com maior cartela de coproduções no mundo, sempre gera grande interesse por parte dos realizadores. Para Séverine Roinssard, da Parati Films, é preciso avaliar com cuidado que tipo de apoio se está buscando. “Na França, tudo se sustenta, então quando o produtor de um projeto é francês e participou desde o início do desenvolvimento, ele pode colocar o filme como uma coprodução francesa e entrar nos sistemas de distribuição do país, usando as estratégias já sistematizadas”.

O cinema realizado em Minas Gerais também teve especial atenção nos debates do Seminário Brasil CineMundi, com o Encontro do Audiovisual Mineiro. Reunindo vários responsáveis por programas de incentivo à produção, junto ao secretário de Cultura, Angelo Oswaldo, a conversa reuniu dezenas de produtores, diretores, roteiristas, pesquisadores e interessados em geral para ouvirem e perguntarem sobre as propostas e políticas do atual governo para o setor.

Um dos temas mais citados, o edital Filme em Minas – cuja última edição é de 2014 – foi comentado pelo secretário. “Ainda não tivemos uma nova edição porque pagamos, em 2015, os valores ainda devidos da edição passada. Estamos preparando o edital para lançá-lo em 2018”, anunciou.

Representantes da Codemig (Fernanda Machado), do BDMG Cultural (João Paulo Cunha) e do MidiaParque (César Piva) discorreram sobre seus orçamentos, condições e propostas para o incentivo à produção e distribuição em Minas. A Rede Minas, com a presença de Kiko Ferreira, diretor de programação, se colocou aberta a propostas de novos tipos de programa. Um dos assuntos mais debatidos foi o Prodam (Programa de Desenvolvimento ao Audiovisual Mineiro), lançado no ano passado pelo governo do estado de forma a concentrar as ações do setor. Entre algumas novidades, estão editais para festivais e mostras, desenvolvimento de roteiro e produção de longas.

“É importante ter noção da importância e do impacto positivo do Prodam, não só dentro do setor, mas também com os atores que estão envolvidos, como a Secretaria de Cultura, a Codemig, a Fapemig, o BDMG”, defendeu Bruno Hilário, suplente da coordenação do programa. Angelo Oswaldo reforçou que o momento é de ação e exaltou a classe ao diálogo. “Estamos querendo ouvir, discutir, somar para aprimorar uma estratégia que viabilize o cinema em Minas”.

Em todas as pontas – as lutas sociais, a coprodução internacional, o cinema de resistência, a produção em Minas, a formação de novos espectadores nas sessões do Cine Escola, o desenvolvimento do olhar crítico nos Diálogos Históricos, os incentivos do Brasil CineMundi –, a CineBH deste ano fez história e chega ao décimo aniversário com fôlego e vigor. Sua vocação de reunir talentos e aprimorar projetos segue firme, rumo a novas possibilidades que se vislumbram para os anos vindouros

 

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